Ócio, segundo o dicionário, é folga ou repouso, período de tempo em que se folga, ausência de ocupação; trabalho sutil que demanda pouco esforço.
Tempo livre, nem preciso olhar no dicionário. É aquele espaço em branco, um não sei o que fazer, além de comer pipoca e encher o tempo. Já o ócio integra a forma de ser de cada pessoa. A vivência de ócio não é dependente da atividade em si, do tempo ou formação de quem a vivencia, mas está relacionada com o sentido atribuído por quem a vive, conectando-se com a emotividade.
Nesses dias em que tento me entregar mais ao ócio do que ao tempo livre, resgatei um livro lido há anos: “O ócio criativo”, do italiano Domenico de Masi. Confesso que na época que li era tão utópico e fora da nossa realidade, quando pregava o tempo sabático e o trabalho em casa. Mas, nesses tempos que estamos vivendo faz todo sentido.
Interessante notar que a palavra ócio, do grego skole – de onde deriva a palavra escola em português – também dá nome aos lugares destinados à educação. Eles consideravam o ócio como algo a ser alcançado e desfrutado. Agora, quando estamos precisando ir na contramão de tudo aquilo que acreditamos ser trabalho, é bom pensar nisso.
Pois estamos sendo estimulados a construir novas rotinas, que podem durar, em que a autopercepção e os encontros sejam potencializados, mas baseados na verdade interna que universalmente é construída a partir da qualidade dos afetos vividos, não vividos ou reprimidos. Nesses tempos de ócio, vale ouro abrir espaço para avaliar os nosso verdadeiros propósitos e tesouros. É necessário pensar e valorizar a vida.
A rotina frequentemente produz infelicidade e medo. Principalmente nos relacionamentos, que são presas fáceis demais para a rotina do chinelão e da camiseta de andar em casa. Sabemos que homens e mulheres esperam aquele encontro mágico que irá mudar a vida deles. Compreensível, pois ainda reverenciamos contos de fada, Papai Noel e Coelhinho da Páscoa.
Caos, dor e solidão. Será que é isso que devemos esperar? Não creio. E isso só será possível se alimentarmos as possibilidades de reencontros. Em uma época em que o individualismo não facilita e a pressa em ser feliz não permite, esse resgate se faz necessário para que as relações, os amores e as famílias tenham sempre uma segunda ou até terceira chance.
Só assim podemos evitar a morte dos encontros. Dando chance aos reencontros. Reencontro com o outro ou com si mesmo, em bases mais que sólidas, verdadeiras e valiosas.