A opinião, até mesmo quando desrespeitosa, deve ser respeitada? Não é isso que acredita o advogado, professor e doutor em Direito, Tiago Pavinatto. Para ele, quando um posicionamento fere alguém, não deve ser levado em consideração. “A democracia garante a liberdade de ser estupido, mas não de fazer mal ao outro. No entanto, é importante lembrar que a estupidez pode reproduzir um preconceito, que nasce de concepções antiéticas, não analisadas e não confrontadas”, pontuou. 

Como exemplo, Pavinatto usou a crença de “terra plana”. Segundo ele, não é possível acreditar que a terra é plana sem estudar e confrontar posições diferentes. “Um jornalista, considerado guru do governo atual, antes de imbecilizar o povo, disse que o brasileiro não sabe de nada e opina sobre tudo. Creio que quem tem concepções de vida, precisa entender o outro. Se não, serão apenas pessoas preguiçosas e vaidosas que não se dão ao trabalho de contrapor suas crenças”, esclareceu. 

Na internet é onde os “imbecis” se sentem mais à vontade. O doutor em Direito explica que a plataforma possibilita que qualquer um expresse suas ideias, independente se é o ganhador de um prêmio ou uma pessoa sem qualquer embasamento sobre o assunto. Ele expõe que “os estúpidos podem se reunir de forma anônima e se sentem mais desinibidos para serem quem são”. 

“No cyberespaço, o humano se aproxima de uma condição mais animalesca. Há uma barreira que impede de ver a reação do outro, então comentam e fazem o que querem. As pessoas não querem ver a própria alegria, mas a desgraça do oponente. Nesse mundo polarizado, ninguém pensa. Vivemos em um país em que a população não conhece seus direitos e deveres fundamentais. Temos decisões estúpidas vindo até mesmo de quem deveria contar com a maior sabedoria, como é o caso dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal)”, disse. 

O advogado ainda lembrou do cineasta e pintor americano Andyl Warhol, que defendia que “no futuro, todos teriam 15 minutos de fama”. Ele defende que a televisão possibilita essa visibilidade, enquanto a internet permite que esse tempo seja usado para “passar vergonha”. 

Pavinatto reuniu seus posicionamentos acerca da liberdade de expressão e estupidez humana no livro Estética da Estupidez: a Arte da Guerra contra o senso comum, lançado em dezembro. Lá o autor faz uma depuração da estupidez e convida o leitor a repensar crenças e valores.

Sinopse do livro Estética da Estupidez – A Arte da Guerra Contra o Senso Comum

A estupidez, por se sustentar da mentira, é um fenômeno que odeia a verdade. Diferente do mentalmente incapaz, ou o estúpido é manipulador ou é um sujeito acomodado, sem curiosidade, puramente violento, preconceituoso ou revoltado. Tiago Pavinatto traz à luz o presente ensaio em decorrência do pesaroso reconhecimento da hegemonia da estupidez no mundo. É ultima ratio de que dispomos, em nossa insignificância, na arena do debate público dominado por vozes já credenciadas e firmadas em momentos menos venais, mas também por estúpidos desprovidos de qualquer conteúdo e qualidade para qualquer debate. Vozes alçadas à falsíssima, embora aparentemente legitimada, condição de autoridade para a discussão em decorrência de um estúpido carisma – aferido por identificação de estupidez –, através do domínio da oratória e da erística ou, ainda, pelo simples fato de serem de celebridades ou de meras famosidades, A “Estética” que o leitor tem em mãos foi realizada em plena pandemia, ainda em andamento, em condições muito agravadas, nas quais a padecemos neste país, em que a máxima estupidez detém o poder de subjugara ela a maioria, composta por enormes minorias, poder estatal aliado ao monopólio econômico, isto que aqui chegou, a bordo de caravelas, trazidas pelos ventos da modernidade então nascente.

TIAGO PAVINATTO

Mais informações sobre os cursos ministrados por Tiago Pavinatto e seus trabalhos podem ser consultadas no site www.pavinatto.com/