Advogada e digital influencer, Bianca Coimbra discute os perigos de opiniões mal embasadas na internet

Quinta-feira, 8 de setembro de 2022. Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte pararam diante do anúncio da morte da Rainha Elizabeth Il. Com menor impacto, mas ainda certa relevância, as outras onze nações que reconhecem a monarquia britânica: Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Bahamas, Belize, Grenada, Jamaica, Santa Lúcia, Papua-Nova Guiné, São
Cristóvão-Nevis-Anguilla e Tuvalu.

Em território inglês, homenagens se sucederam por dias, assim como a fila
de nove horas para o último adeus à mulher que liderou a Igreja Anglicana e a monarquia parlamentarista por quase sete décadas.

Ao redor do mundo, em países de regime democrático — como o Brasil, no qual o líder é escolhido por votação popular — enquanto os súditos da rainha choravam pelo mundo, internautas correram às redes com críticas. “Não há o que enaltecer diante de um governo que massacrou pessoas, um dos principais operadores do Apartheid na África do Sul. Para alguns povos ela foi rainha, para outros, colonizadora”, diz o post de um brasileiro.

Pessoas públicas se manifestaram comparando a mobilização pela monarca com a falta de ações em casos de assassinatos de jovens periféricos. “Por um mundo em que a comoção pela morte de uma rainha escravocrata passe a ser a comoção do assassinato de um jovem negro a cada 23 minutos”.

Outro, ainda, afirmou que “a fortuna da família real britânica foi fruto de saques dos países colonizados e exploração do trabalho escravo”.

Importância da contextualização

Segundo a advogada e influenciadora digital Bianca Coimbra, os tópicos
trazidos à tona na internet são relevantes, mas precisam ser analisados com cuidado. O perigo está na falta de contextualização histórica dos fatos e propagação de discurso de ódio, muito comum na internet atualmente.

“A maioria destas publicações critica as homenagens à rainha Elizabeth com discursos de que ela foi genocida e escravocrata. Mas é preciso entender como esta monarquia funcionou por séculos antes dela e como é hoje em dia, totalmente diferente da monarquia colonizadora. Além disso, a avaliação de Elizabeth como pessoa, como mulher, precisa ser feita à parte de tudo isto”.

Coroada em 1953, após a morte do pai, Rei Jorge VI, Elizabeth tinha 26 anos quando assumiu o trono. À época e, nas décadas iniciais de seu reinado, foi criticada por ser mulher no mundo masculino da política. “Até o próprio marido, no começo, não aceitava ficar em segundo plano, à sombra da esposa. Que era a rainha! Alguém que assumiu o poder na idade que tinha e se manteve tantos anos, renunciando à vida pessoal, da criação dos filhos… O quanto ela abdicou para conseguir se manter no trono diante das críticas e cumprir esse papel “masculino”, no conceito da sociedade da época… Tudo isso precisa ser considerado e reconhecido”, explica a influenciadora.

“Não digo que não cometeu erros. Mas o quanto ela representou e representa para o mundo. E o quanto ela teve de se manter firme em uma
época em que as mulheres eram completamente desmerecidas o tempo inteiro”, continua.

Para a advogada, o assunto da Rainha Elizabeth foi apenas um dos diários de discussões sem fundamento na internet. À todo momento, manifestações acontecem nas redes por diversos motivos, boa parte de assuntos relevantes, porém com a abordagem equivocada.

“Me preocupa muito a quantidade de informações propagadas online sem
nenhum embasamento. À gente brinca, apesar de ser muito sério tudo isso, que a fonte da pessoa são as “vozes da cabeça dela”.

Discussões na internet

Ex-conselheira tutelar e mãe, alguns dos assuntos disseminados por Bianca
nas mídias são questões referentes à maternidade e aleitamento. Apesar
de advogada e com experiência na área, a influenciadora ainda sofre
retaliação de terceiros que a criticam por não estar no lugar de fala”.

“Dizem que eu não conheço a maternidade real e que não tenho propriedade para falar do assunto. Até de Barbie já fui chamada. O que as pessoas não têm noção é do quanto eu pesquiso uma informação antes de dar visibilidade a ela. Desde o aleitamento materno, de quando eu amamentava meu filho, que eu pesquisava e falava com médicos antes de publicar algo. E sempre deixando claro nos posts que eu tinha uma fonte, quem era essa fonte, de onde eu havia tirado aquela informação… E mesmo assim era penalizada”.

Política, principalmente em meses que antecedem o período eleitoral, são
outro grande motivo de desavenças online. Bianca, ávida pelo debate
inteligente e saudável, afirma que traz o assunto com frequência em vídeos
e sempre recebe farpas de ignorância. “O hater (seguidor que comenta com base no ódio, para difamar ou prejudicar) sempre vai existir. Mas eu faço questão de responder todos eles, esperando uma conversa embasada, com argumentos relevantes, sejam “de direita”, ou “de esquerda”.

Tenho amigos e familiares das duas posições políticas e consigo ter bom
relacionamento e troca de opinião com ambos os lados, desde que sejam
respeitosos e inteligentes. Porque fundamental falarmos sobre isso!

Com os mais próximos, troco memes engraçados sobre política, eles me respondem sobre isso… É um debate baseado em ideias mesmo, não ódio.
Agora, se a pessoa me retorna com grosseria, aí eu não aturo. Bloqueio e
excluo”.