Dermatologista alerta sobre riscos da busca pelo padrão estético estabelecido pela sociedade.
Harmonização facial é o nome dado ao conjunto de procedimentos feitos para promover um aspecto mais simétrico ao resto. Apesar da crescente procura ao longo dos anos, é preciso tomar cuidado quando o assunto é estética e busca incessante por atingir padrões de beleza — muitas vezes irreais — , inspirados em filtros do Instagram.
Segundo a médica dermatologista Roseli Andrade, os dentistas tiveram grande papel na popularização. “Esses profissionais invadiram o mercado da beleza. Nas redes sociais, podemos ver diversas imagens de antes e depois. Enquanto nós, médicos, não podemos fazer qualquer tipo de propaganda na Internet. Com isso, a harmonização facial ganhou holofotes e se expandiu”, pontua.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica registrou que, entre 2014 e 2019, o número de procedimentos subiu 255%, de 72 mil para 256 mil ao ano, considerando apenas os procedimentos realizados em homens.
Andrade afirma que muitos pacientes procuram consultórios visando a famosa “harmonização facial”, Quanto a isso, faz questão de esclarecer que, embora o nome seja recente, os procedimentos que proporcionam um rosto harmônico são realizados há muitos anos.
“Hoje em dia, quando uma pessoa pergunta se a outra fez a harmonização, geralmente significa que o resultado foi de rosto quadrado, lábio muito grande, nariz um pouco diferente e uma — quase — caricatura do rosto”, explica.
Harmonização deixa todos os rostos iguais?
A médica esclarece que a crença de que todos os resultados são iguais é “culpa” de alguns laboratórios. Para vender produtos, principalmente ácido hialurônico (que mais modifica em volume o rosto), essas empresas fornecem uma “receitas de bolo” para aplicação nos procedimentos.
“É como se livesse um caderninho com as informações de quantos mililitros (ml) de ácido hialurônico em cada ponto são necessários para realizar as modificações. Seguindo a regra, todo mundo fica com a mesma cara. Então os dentistas, que exploram esse campo recentemente, acabam deixando todos parecidos”, diz Roseli.
Os resultados podem causar tamanha insatisfação, que os pacientes lutam para dissolver o que foi colocado. O produto que dissolve o ácido hialurônico, conforme a dermatologista, pode causar complicações, como: choque anafilático, alergia, edema de glote e até parada respiratória.
“Não é aquilo de “coloquei em um dia e no outro, vou tirar”. Se seguir com essa mentalidade, estamos banalizando algo sério. É preciso escolher bem o profissional, entende sobre o produto e as quantidades que serão aplicadas. Ácido hialurônico é excelente para dar um refinamento, mas em excesso, não é correto”, enfatiza.
Como funciona o ácido hialurônico
“Eu sempre brinco que a substância parece um espaguete. Conforme se degrada, se quebra em partes, algumas delas se acomodam no tecido colágeno e ficam aderidas. Pode passar quatro ou cinco anos e os resquícios ainda estarão ali. Esses pedacinhos são altamente estimulados por qualquer
processo inflamatório”, expôs Andrade.
Sendo assim, o paciente pode sofrer com reação pós-vacina, sinusite, Covid-l9, ou até mesmo uma simples gripe, e desencadear um processo inflamatório.
“A transformação não pode ser encaixotada e em busca de um padrão estabelecido pela sociedade. O que fica bonito para um, não fica para o outro. O foco dos procedimentos estéticos que acredito é deixar o rosto belo e natural”, conclui.