A expressão italiana que dá título a esse texto surgiu na minha mente como óbvia, o que mais poderia escrever numa temporada de 2 meses pela Toscana.

No antagonismo do Ócio Criativo, descrito em livro de igual nome por
Domenico de Masi, um não fazer nada contemplativo vai muito além
de meditar, praticar um hobby, um esporte, ler um livro e, sim simplesmente não fazer nada, o que é altamente complexo com nossas
mentes hiper conectadas.

Nesse meu primeiro ano mais europeu que latino, aprendi muito sobre paciência e respeito a culturas diversas. Na maioria dos países há dias de tudo, absolutamente tudo fechado e, via de regra o expediente começa mais tarde, fecha no horário do almoço e encerra cedo.

Há centenas ou talvez milhares de cidades onde o funcionamento do comércio ocorre apenas entre os meses de junho e setembro, focados no boom do verão.

Mas o que podemos aprender com essa qualidade de vida” e como vamos chegar um dia num capitalismo sustentável? Quanto será possível se ainda há gente que procura comida no lixo? Seria isso apenas uma vertente bonita de mais uma das bolhas que vivemos?

Obviamente que não conseguirei responder todas essas as perguntas nesse texto, muito menos porque não estudei futurologia. Contudo, eu elencaria três pilares para ser possível cultivar parcialmente o 1 douce far niente”

O primeiro é o desprendimento material. Não há a menor possibilidade de você trabalhar menos, viver mais e querer consumir tudo como um predador capitalista. Não precisa de carro, morar de aluguel em lugar menor, esporte ao ar livre, cultura gratuita, cozinhar para amigos, estudar online, são possibilidades. Esqueça marcas, compras por prazer e liberdade de escolha, a sua liberdade procurada é material, então antagônica qualquer desejo supérfluo.

O segundo pilar engloba duas palavras, cadência e paciência, fazer o que se tem que fazer todos os dias, em doses homeopáticas, tocado numa evolução contínua e não apenas num resultado. Quem criou a vitória como um lugar único, nunca venceu realmente. O sucesso é poder fazer todos os dias a mesma coisa, cada dia mais inspirado e conseguir progredir seja materialmente ou intelectualmente. Isso requer disciplina e paciência. Mas quando falo disciplina, é algo cultivado como prazeroso e que te faz bem.

O terceiro, apesar de serem duas palavras são um só: fé e energia. Fé não é vinculada à religião, acreditar no seu potencial e, que o universo é abundante, gera um sentido para sua fé. Energia anda com a fé e vem de você e para você, dormir bem, praticar esporte, comer bem, não ter vícios são hábitos de fé, que vão gerar uma energia positiva automática na sua vida.

Eu posso dizer que tenho conseguido praticar ao meu estilo “ il dolce far
niente”, e com esses três pilares criar esse caminho cultivado todo dia. Não sentir culpa por produzir mais em menos tempo é desafiador e libertador, você fatalmente irá perceber que o seu “não fazer nada” foi fundamental para fazer o seu “tudo”.