A religião está cada dia mais presente na política mundial, no Brasil o cenário não é diferente. Durante a eleição de 2018 o Brasil viveu um dos momentos principais dessa relação de união de dois assuntos que são grandes dominadores de massas. Essa junção se deu durante a candidatura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) onde o então candidato defendia valores da família tradicional, o fim da “velha política” e o fim do comunismo, assuntos esses que também eram publicados e disseminados por vários meios de comunicação evangélicos.

Essa mudança de padrão na política gerou diversos estudos e pesquisas que evidenciaram essa junção e discussão sobre esse assunto. Para o teólogo e pesquisador do Labô da PUC-SP, Edvaldo Shamá, esse sistema politico-religioso começou com o imperador Constantino, no século IV, que favoreceu de forma política e religiosa o Cristianismo em seu governo.

“Quando Constantino fez esse casamento entre religião e política, não existia democracia e o cidadão tinha que aceitar o que viesse. Hoje nós vivemos em um mundo democrático, mas a questão é que neste momento estamos vivendo uma particularidade que é: os cidadãos não estão aceitando a liberdade de falar e de opinar. Embora esse seja um fenômeno que aconteça há muito tempo na história do mundo ocidental, esse momento é bem novo e diferente”, explica o pesquisador.

Imperador Constantino. Reprodução: Internet

Ainda de acordo com o Shamá, existe um sistema chamado de “teoria do domínio” que está por trás de todo esse sistema de junção desses dois assuntos. Essa teoria seria um conjunto de ideologias políticas que tem como objetivo submeter a vida pública ao domínio religioso dos cristãos neopentecostais e da interpretação que eles fazem da lei bíblica. A teologia do domínio se baseia em sete montes que são de interferência no trabalho, na política, educação, arte, religião, família e nos negócios.

“Essa teologia nasceu nos EUA na década de 70 a partir de cristãos protestantes de linha republicana. Esse movimento de querer impor a sociedade suas crenças migrou dos EUA para o Brasil ao longo das últimas décadas e isso tem povoado a mente de certos grupos religiosos no Brasil.”

Atualmente, a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional tem 228 integrantes sendo 202 deputados federais e 26 senadores. Mesmo Brasil sendo um Estado laico, ou seja, ele respeita todas as religiões ou a não crença nelas de forma igual, essa ainda é a maior bancada política brasileira. Além disso, o Estado laico também garante que o país não pode se vincular a nenhum credo religioso.

Bancada religiosa no governo Bolsonaro. Foto: Divulgação FPE

Mesmo o país sendo laico, muitas dos projetos que passam por votação levam em conta argumentos religiosos ao invés de técnicos em suas propostas. Alguns casos como o do Projeto de Lei 5.167/09 que proíbe casamentos de pessoas do mesmo sexo gerou uma grande discussão sobre essa interferência da religião na política do país.

A política de forma geral deve respeitar a individualidade de cada um, ainda mais em um país tão diverso como o Brasil. Uma só crença não deve ditar os rumos de um país que foi colonizado e que tem em sua história as crenças indígenas, africanas, espiritas e cristãs. Política e religião são formas de ver o mundo e em um país tão grande, transforma-las em únicas significa excluir milhares.

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