Médico aponta que 90% das mortes de gestantes poderiam ser evitadas com atenção qualificada, cuidado humanizado e abordagem mais ampla da saúde feminina

Nesta quarta-feira (28), o Brasil e diversos países do mundo marcam duas datas importantes no calendário da saúde: o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. Estudos apontam a morte de mulheres durante a gravidez, o parto ou até 42 dias após o nascimento do bebê.

Segundo o último boletim do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 53,3 mortes maternas a cada 100 mil nascidos vivos em 2022. Embora esse número represente uma queda em relação ao pico observado durante a pandemia de Covid-19, o índice ainda está acima do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece como meta até 2030 menos de 30 mortes por 100 mil.

As principais causas dessas mortes permanecem as mesmas: complicações hipertensivas da gestação (como a pré-eclâmpsia), hemorragias, infecções puerperais e os efeitos de abortos inseguros. Mas especialistas alertam que as causas estruturais também pesam: desigualdade de acesso a serviços de saúde, racismo institucional, violência obstétrica e ausência de cuidado integral no pré-natal.

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“A mortalidade materna revela falhas em toda a rede de cuidado à mulher. Ela é, muitas vezes, o desfecho de uma assistência fragmentada, que não considera a mulher em sua totalidade”, avalia o ginecologista e obstetra Dr. José Carlos Gaspar Junior, com mais de três décadas de atuação.

Gaspar defende uma abordagem integrativa da medicina, em que o cuidado com a saúde da mulher não se limita à dimensão biológica, mas considera também os aspectos emocionais, sociais e psicológicos envolvidos na gestação. Segundo ele, práticas integrativas e complementares, quando baseadas em evidências, ajudam a prevenir complicações e a oferecer um suporte mais humano durante o ciclo gravídico-puerperal.

“Em muitos casos, sintomas físicos têm origem em sofrimentos emocionais que não são escutados no consultório. Precisamos de mais escuta, mais vínculo, mais respeito às singularidades de cada mulher. Isso também é prevenção”, afirma o médico.

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Dados da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) mostram que mulheres negras e indígenas morrem mais em decorrência de causas maternas do que mulheres brancas, em parte devido às barreiras de acesso aos serviços de saúde e ao racismo estrutural. A falta de profissionais capacitados, o excesso de cesáreas sem indicação clínica e a ausência de atendimento pós-parto adequado também entram na equação.

Organizações internacionais e movimentos sociais reforçam que o combate à mortalidade materna não é apenas uma questão técnica, mas também política e social. Garantir acesso a um pré-natal de qualidade, serviços obstétricos seguros e atenção ao puerpério deve ser prioridade em todos os níveis do sistema de saúde.

Neste 28 de maio, especialistas e instituições de saúde chamam atenção para a necessidade de investimento público, formação de profissionais com enfoque humanizado e fortalecimento da atenção primária, especialmente em regiões mais vulneráveis.

“O que chamamos de ‘saúde da mulher’ vai muito além de exames ginecológicos. Trata-se de olhar para ela como um ser completo — corpo, mente, história. É isso que pode, de fato, salvar vidas”, conclui o Dr. Gaspar.