O crescimento da inteligência artificial tem gerado uma preocupação para os terapeutas e psiquiatras. De acordo com uma pesquisa da plataforma de pesquisa Talk Inc no Brasil 1 a cada 10 pessoas recorrem aos chatsboats para desabafar, buscar concelhos ou conversar.
Essas buscas estão se tornando comuns nos dias de hoje, até porque, se expor para um desconhecido é algo difícil em um primeiro momento. Além dessa questão o valor das consultas pode não estar dentro do orçamento de uma população onde boa parte vive de com um salário mínimo.
Mesmo sendo a alternativa mais “fácil” e barata ela não é indicada, já que uma IA não tem preparo para indicar o tratamento necessário. Para Alfredo Simonetti, psiquiatra, psicanalista e escritor, essa ação mostra o preconceito que a maioria das pessoas tem de fazer terapia.
“Uma coisa é você procurar terapia com uma inteligência artificial. Outra coisa é procurar terapia com outro ser humano. Quando você reconhece que uma outra pessoa sabe algo sobre você, esse gesto é quase que um reconhecimento de impotência. É mais fácil achar que uma IA sabe algo de mim do que um outro ser humano, é menos complicado. A ferramenta você pode desligar quando quiser, o terapeuta não.”

Solidão na era da conexão
Ainda sobre a pesquisa da Talk Inc, é possível observar que o principal motivo dessa procura pela IA é a solidão, muitos dos entrevistados relataram que se sentem sozinhos e com poucos amigos. A pesquisadora do MIT, Sherry Turkle, estuda como a tecnologia, especialmente as redes sociais e os dispositivos digitais, afeta as relações humanas. Ela argumenta que a dependência de tecnologia pode levar ao isolamento emocional e à diminuição da conexão autêntica entre as pessoas, o que levaria a solidão.
Existem diversos pontos de alerta sobre a relação entre ser humano e a inteligência artificial, uma delas é o fato da sociedade estar em todos os momentos conectada, mas cada vez mais longe da vida real e das conexões de grupos, gerando o sentimento de solidão que pode evoluir para diversos transtornos mentais.

Simonetti comenta que o papel do psicólogo e do psicanalista é entender esses transtornos e dedicar a eles o tratamento correto, seja o acompanhamento terapêutico ou o uso de medicações. “O psicólogo e o psicanalista é um administrador de angústia, é preciso observar se aquela angústia está em um nível que a pessoa tolera ou não.”
De acordo com o psicólogo e psicanalista esses são os pontos de alarme para se passar em um psiquiatra:
- Risco de suicídio alto (quando existe um plano e uma intenção para a ação);
- Comprometimento físico (fraqueza, falta de alimentação, crise psicomotora);
- Quando a pessoa trava em algumas situações, ou seja, quando o medo e a angústia não permitem que a ação seja realizada;
Em qualquer tipo de transtorno mental, procure um médico, somente um especialista pode dar o diagnóstico correto.
Assista a primeira parte dessa conversa na integra:
Psicologia, maternidade e tecnologia
A tecnologia também está presente na criação dos filhos, principalmente no uso abusivo de telas pelas crianças que não conseguem ter a atenção necessária dos pais. Para Simonetti essa chegada da tecnologia tem ligação com a evolução da carreira feminina.
“A nossa sociedade transferiu para a escola as tarefas que nós dávamos para as mulheres. A mulher tinha que ficar em casa, estudar e cuidar dos filhos… A medida que a mulher saiu para o mercado de trabalho, o homem não entrou tanto assim para substituir.”
Alguns pesquisadores apontam que o uso excessivo da tecnologia causa nas crianças dificuldades de sono, desenvolvimento de ansiedade e depressão, sedentarismo e de forma mais física gera problemas na visão e postura.
Assista a segunda parte dessa conversa na integra: