A presença feminina segue restrita nas principais posições de poder da Câmara dos Deputados: entre os 100 parlamentares mais influentes do biênio 2025-2026, apenas 12% são mulheres — porcentagem ainda menor do que a composição da bancada feminina na Casa (18%). A influência está fortemente concentrada em parlamentares homens de partidos do Centrão, como PP, PL, União Brasil e Republicanos. Já entre as mulheres, há uma distribuição mais plural, com equilíbrio entre direita e esquerda: PL e PSOL aparecem com três representantes cada, seguidos por Novo, PCdoB, PDT, PSD, PT e União, com uma parlamentar cada.
É o que aponta o Índice de Influência Parlamentar (IFI), um ranking inédito produzido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem) e pelo Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), presente em relatório divulgado nesta quinta (14). Com dados atual biênio da 57ª Legislatura (2025-2026), o índice identifica a capacidade dos parlamentares de moldar os rumos das decisões na Câmara dos Deputados.

A diversidade geracional também é marca das lideranças femininas em todos os espectros ideológicos, passando por parlamentares com 35 anos ou menos – Yandra Moura (União-SE), Chris Tonietto (PL-RJ), Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Célia Xakriabá (PSOL-MG) – até veteranas como Benedita da Silva (PT-RJ), de 83 anos.
“Ainda que a participação feminina no top 100 seja pequena, a diversidade ideológica, geracional e regional entre essas mulheres é significativa”, analisa Maiane Bittencourt, cientista política, pesquisadora da UFPR e uma das autoras do estudo. Outro destaque, segundo Bittencourt, foi o desempenho institucional de parlamentares indígenas – como Célia Xakriabá – e de esquerda em posições estratégicas de relatoria, o que poderia indicar novos padrões de inserção institucional, ainda que tímidos.
Para realizar o ranking do potencial de influência dos 513 deputados eleitos em 2022, os pesquisadores utilizam três critérios principais: concentração de poder (cargos que permitem forte influência nas decisões), liderança unitária (funções que só podem ser ocupadas por uma pessoa por vez) e duração (cargos não temporários). Após atribuir notas às posições como presidência de mesa diretora ou comissões, relatorias de projetos relevantes ou cargos de liderança partidária – incluindo também ocupações desses postos em legislaturas passadas, a partir de 1999 – são feitos cálculos utilizando pesos previamente definidos, produzindo uma média ponderada numa escala de 0 a 10.

O relatório aponta a importância de não apenas promover o aumento de cadeiras ocupadas por mulheres, mas também de partidos fortalecerem suas políticas internas para estimular a presença de mulheres em posições de poder. “O IFI permite ir além das análises tradicionais de desempenho parlamentar, que costumam se basear em número de proposições apresentadas ou presença em plenário. Ao mensurar, com base empírica, a ocupação de cargos estratégicos, ele traduz uma dimensão muitas vezes invisível, mas determinante, da política legislativa: quem tem acesso aos mecanismos decisórios”, explica Bittencourt.
Segundo a pesquisadora, o IFI fornece insumos estratégicos para o desenho e a articulação de políticas públicas ao oferecer uma fotografia detalhada de quem tem poder decisório dentro da Câmara. “Isto é especialmente útil para gestores públicos e organizações da sociedade civil, que podem identificar com mais precisão quais parlamentares possuem maior capacidade de pautar, travar ou acelerar agendas legislativas”, avalia. Para jornalistas, o relatório também pode fortalecer a cobertura política com base empírica.
Tabela com colocação das 12 deputadas que aparecem no Índice de Influência Parlamentar
Fonte: Agência Bori