No mês de setembro o Brasil registrou um aumento preocupante nos casos de intoxicação por metanol, substância altamente tóxica usada principalmente na indústria química e como solvente. Embora tenha diversas aplicações industriais legítimas, o metanol tem sido responsável por surtos de intoxicação, especialmente quando utilizado de forma irregular em bebidas alcoólicas.

De acordo com dados divulgados no dia 25 de outubro pelo Ministério da Saúde, o país contabiliza 58 casos confirmados e 15 mortes de intoxicação aguda por metanol. Apenas pequenas quantidades da substância — o equivalente a uma ou duas colheres de chá — podem causar cegueira ou levar à morte. Quando ingerido, o metanol é metabolizado pelo fígado em compostos altamente tóxicos, como o formaldeído e o ácido fórmico, que afetam gravemente o sistema nervoso central e os rins.

A médica oftalmologista, Fernanda Colombo Barbosa, afirma que em casos de intoxicação, o paciente deve procurar um médico o mais rápido possível, quanto mais cedo essa procura, maior a possibilidade de reversão do quadro. Quando a intoxicação atinge a região dos olhos a cegueira é um dos problemas causados pelo metanol. “No nervo ótico que se desenvolve essa neuropatia óptica, oriunda desse processo de metabolização do metanol. Algumas pessoas relatam uma cegueira súbita ou algo progressivo”.

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Os sintomas iniciais de intoxicação incluem dor de cabeça, náusea, tontura, visão turva e confusão mental. Em casos mais graves, o quadro evolui para convulsões, coma e parada respiratória. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), surtos de envenenamento por metanol têm ocorrido em diversos países, principalmente ligados ao consumo de bebidas clandestinas.

No Brasil, episódios desse tipo têm sido registrados em diferentes estados, geralmente associados à produção e comercialização de bebidas alcoólicas falsificadas. A Anvisa reforça que apenas bebidas registradas e fiscalizadas devem ser consumidas. Produtos vendidos sem rótulo, com cheiro ou sabor alterados e de origem duvidosa representam um risco real.

Além das bebidas adulteradas, o metanol também pode causar intoxicação por inalação ou contato direto com a pele, especialmente em ambientes de trabalho industrial. Por isso, a Fundacentro e o Ministério do Trabalho orientam que empresas adotem medidas rigorosas de segurança, como ventilação adequada, uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e treinamento de funcionários que lidam com solventes e combustíveis.

Entre as principais recomendações para evitar a exposição e intoxicação estão:

  • Evitar o consumo de bebidas de origem desconhecida ou vendidas sem rótulo;
  • Observar o selo fiscal e as informações do fabricante;
  • Não armazenar produtos químicos em garrafas de bebidas, o que pode levar a ingestões acidentais;
  • Em ambientes industriais, utilizar luvas, máscaras e óculos de proteção e manter áreas ventiladas;
  • Procurar atendimento médico imediato em caso de suspeita de intoxicação.

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Especialistas reforçam que a rápida identificação e tratamento médico podem salvar vidas. O antídoto mais utilizado é o fomepizol ou, em alguns casos, o etanol terapêutico, ambos administrados em ambiente hospitalar. O Disque-Intoxicação (0800 722 6001), da Anvisa, funciona 24 horas por dia e oferece orientação gratuita à população em casos de emergência.

A conscientização e o consumo responsável são as principais armas contra a intoxicação por metanol. Mais do que um problema individual, trata-se de uma questão de saúde pública, que exige fiscalização constante, informação acessível e mudança de comportamento para evitar tragédias.