Melatonina é um hormônio derivado da serotonina e produzido pela glândula pineal, localizada no cérebro. Modula padrões do ciclo sono-vigília e sazonal, tendo sua secreção e produção relacionadas com a baixa luminosidade do ambiente.
Todos nós temos receptores visuais na retina que levam informações do ambiente externo para o nosso cérebro. Assim, quando começa a escurecer, o cérebro recebe essa informação, libera melatonina, a qual vai auxiliar na indução do sono.
A melatonina tem ainda ação antioxidante, neuroprotetora e melhora o sistema imunológico.
Há alterações na produção endógena de melatonina em situações como envelhecimento, deficiência visual, em algumas condições neurológicas, jet lag (distúrbio do sono proveniente de mudanças bruscas de fusos horários devido a viagens), turno de trabalho noturno, entre outros.
A suplementação com melatonina sintética pode ser útil para induzir o sono em alguns casos, mas devemos lembrar que deve haver orientação médica e a dose ajustada individualmente. A melatonina sintética, mesmo sendo um hormônio, não é isenta de efeitos colaterais, sendo alguns deles, cefaleia, sonolência diurna, vertigem, náuseas, sonhos vívidos e embora apenas em torno de 15% seja de fato aproveitado, não significa que deva ser administrada em concentrações altas.
A melatonina sintética é comercializada em vários países sem receita médica. Aqui no Brasil é possível comercializar a melatonina sintética em farmácias de manipulação e mediante receita médica. A questão é que não existe um protocolo para seu uso, então essa é uma estratégia muito particular que deve sempre ser conduzida por um médico especialista.
Importante destacar que nem todo distúrbio do sono está associado a deficiência de melatonina. Diante de uma pessoa com queixas de distúrbios de sono, o médico precisa fazer uma boa avaliação, entender se existe algum outro fator que possa ser manejado, fazer uma boa higiene do sono, criar rotina que favoreça o controle de todos os processos envolvidos com o sono, melhorando, assim, sua qualidade.
Muitas vezes, pequenos ajustes na rotina garantem a produção adequada de melatonina de forma natural, sem que seja necessário o uso do composto sintético. Algumas orientações neste sentido são: evitar muita luz no período da noite, inclusive as luzes emitidas por telas de qualquer equipamento eletrônico; não fazer refeições pesadas antes de dormir etc.
Mesmo nos casos em que é indicado o uso da melatonina sintética para ajudar na indução do sono, isso não exclui a necessidade de manutenção da higiene do sono, mantendo a luminosidade bem baixa para que o cérebro consiga também produzir uma quantidade de melatonina em associação com o suporte sintético que ele está recebendo.
* Dra. Deborah Kerches é neuropediatra (CRM 102717/SP, RQE 23262-1), especialista em Transtorno do Espectro Autista e Saúde Mental Infantojuvenil; coordenadora e professora da pós-graduação Transtorno do Espectro Autista na Adolescência do CBI of Miami; professora da pós-graduação em Psiquiatria Infantil do CBI of Miami; diretora técnica do CAPS infantojuvenil de Piracicaba-SP; Membro da Sociedade Brasileira de Neuropediatria; Membro da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil (ABENEPI); Membro da Academia Brasileira de Neurologia e Membro da Associação Francesa La cause des bébés.