O Brasil está em promoção! Se você tinha R$ 1.000 em janeiro, tem agora pelo menos 39% a menos, ou seja, cerca de R$ 600. No momento em que escrevo esse artigo, o dólar comercial está R$ 5,57, ou seja, cada dólar vale 5,57 reais.
Em fevereiro, quando o Brasil ainda não tinha registro de COVID-19, o Ministro Paulo Guedes bravejou que “o câmbio mudou, não tem esse negócio de empregada doméstica indo para Disney, uma festa danada”. Em março, o dólar batia R$ 4,49 e a Disney ficava distante também da classe média.
Mas a classe média está sentindo muito além do sonho de viagens ao exterior. Exportadores comemoram e matérias primas importadas elevam os valores dos produtos em supermercados. Que o dólar influencia tudo no dia a dia, da gasolina ao remédio, não temos dúvida, mas por quais motivos o real foi a moeda que mais desvalorizou no mundo em 2020?
1) Fogo no parquinho: concordem ou não, a falta de políticas ambientais é motivo para afastar investimentos. O ambientalismo que era moda virou necessidade. Estar longe de pautas verdes é estar longe das ‘verdinhas’, implica em fuga de capitais e falta de novos investimentos. Menos recurso entrando, dólar mais caro por menor oferta;
2) Taxa de juros baixas: O Brasil infelizmente sempre recebeu muito capital especulativo, baseado em uma alta taxa de juros. Com a queda da SELIC aos patamares históricos mais baixos, os dólares que estavam aqui para ganhar juros também foram embora, menos dólar em nossa economia, dólar caro;
3) Falta de Reformas + falta de solução da situação fiscal: Em meio ao caos da pandemia, as reformas foram abandonadas e todos nós pagamos o preço. A indefinição e falta de políticas claras que demonstrem vontade de melhorar a administração pública, o sistema tributário e aumentar o equilíbrio fiscal fazem o investidor ter terror de colocar dólares no Brasil. O pânico de calote afasta o mundo de investir em nosso país, logo, se ninguém quer investir no Brasil, dólar caro e real barato;
4) Falta de perspectiva de crescimento: Resulta da falta de investimento exterior, desemprego e diminuição do poder aquisitivo e, por consequência, queda do consumo. Temos uma clara recessão com dois trimestres de PIB negativo.
Esses aspectos podem ser solucionados, mas a falta de um panorama claro faz com que investidores tenham uma aversão ao Real. Não há como passarmos ilesos e ignorarmos a alta do dólar e a fragilidade de nossa moeda. Não se discute ideologia, um país precisa ter autocrítica, menos embate e mais debate.