Inspirado pelas habilidades manuais adquiridas na infância ao lado da mãe artesã, o cirurgião-dentista e professor José Marcio do Amaral encontrou em seu espírito naturalmente empreendedor uma forma de construir uma Odontologia completa e para todos. Foi pioneiro na popularização da tecnologia digital nos consultórios odontológicos e na aplicação do conceito de clínica all-in-one em Santos, trazendo mais conforto e agilidade no atendimento dos pacientes.
Em entrevista à Studiobox, José Marcio fala sobre os desafios e da dedicação necessária para empreender nessa área e mostra todo o seu orgulho da equipe que construiu no Instituto Implante Vida e de poder ver sua filha Maithê seguindo seus passos na Odontologia.
Revista Studiobox – Como é a sua relação com a cidade de Santos?
José Marcio do Amaral – Sou de Campinas, mas minha relação com a Cidade é de amor. Eu vim para cá tão pequeno, com menos de dois anos de idade, que me sinto santista. É a cidade mais linda do mundo.
Por que escolheu a Odontologia?
Eu tenho uma habilidade, que herdei da minha mãe artesã, de trabalhar com as mãos. Primeiramente, foi isso que me fez ver a Odontologia como um caminho. Foi uma quebra de paradigmas, porque venho de uma família tradicionalmente de advogados. Mesmo me inspirando e querendo ser como o meu pai, eu sempre soube que minhas habilidades eram mais parecidas com as da minha mãe. Tive a oportunidade de acompanhar ela no dia a dia quando criança, passava o tempo pintando gesso, bordando, vendo ela pintar… Acho que foi aí que eu fui me aperfeiçoando e entendendo que trabalhar com as mãos e lidar com pessoas é algo que eu realmente gosto.
Qual foi a sua inspiração nessa escolha profissional?
O que me inspirou a ser dentista foram essas habilidades e minha vocação, mas quem me mostrou uma odontologia mais humanizada foi um dentista conhecido da família, o Joseph. Eu não era paciente dele, mas uma vez tive uma dor de dente muito grande e ele, sem nenhum compromisso financeiro, me levou para o consultório dele em São Paulo e resolveu o meu problema. Ele tinha esse consultório na Capital, para uma classe social mais elevada, mas também atendia na Zona Noroeste de Santos, para um público de baixa renda. Isso fez com que eu me aproximasse cada vez mais da Odontologia.
Qual a sua formação e como chegou nessa área?
Minha primeira especialização foi a Dentística Restauradora, ou Odontologia Estética, que me deu uma formação e uma visão mais ampla do que é a Odontologia. Pude usar minha habilidade para restaurações e preparos e ganhei uma visão estética do paciente, com relação ao sorriso. Mas ainda era insuficiente para executar uma Odontologia mais completa. As pessoas usavam dentaduras ou próteses parciais, e eu acreditava que podia melhorar isso. Ficava agoniado de ver que não ficavam 100% satisfeitas com as próteses, ainda sentiam insegurança para falar, sorrir, comer… Foi isso que me motivou a buscar a Implantodontia e melhorar a função e a estética para esses pacientes
Como foi a sua trajetória até abrir o Instituto Implante Vida?
Não foi sempre assim, mas durante mais de três décadas de carreira aprendi a começar pelos alicerces e ir construindo até chegar no telhado, então resolvi primeiro construir um currículo. Estou há 34 anos na área acadêmica: fui monitor de uma disciplina, depois estagiário, professor assistente e hoje sou coordenador geral dos cursos de Implantodontia. Fiz duas especializações, mas percebi que precisava dar um passo a mais para certificar minha carreira. Assumi o maior desafio da minha vida, que foi fazer o mestrado em Bauru. Eram 423 quilômetros da minha casa até o hotel onde eu ficava semanalmente.
Por que escolheu esse mestrado?
Era o mestrado mais concorrido do Brasil, com mais de duzentos candidatos para seis vagas. Eu tentei duas vezes, na primeira não passei mas na segunda deu certo. Era um mestrado qualificado, do qual fazia parte o ‘pai da Implantodontia’, o professor sueco Branemark. Claro que fui atrás do melhor, e foi um grande desafio porque era muito competitivo, tinha a distância e fui testado por dois anos para saber se era realmente aquilo que eu queria.
E então você se sentiu pronto para dar o próximo passo?
Com uma formação consistente, duas especialidades, lecionando e publicando casos clínicos e escrevendo capítulos de livro, conquistei a credibilidade que buscava. Achei que era enfim o momento que eu queria: ter uma clínica com padrão internacional, que fosse estruturada como uma clínica de primeiro mundo.
Dei o passo para transformar o Instituto Implante Vida em uma clínica com diferenciais, uma certificação ISO 9001, conceito all-in-one… Foi a primeira clínica a trabalhar com scanner intraoral, a primeira em Santos a ter panorama e tomógrafo dentro da clínica. Outras clínicas já tinham laboratório, mas ter todos esses recursos dentro de uma só clínica foi algo pioneiro.
Você está sempre trazendo novidades e tendências para o instituto. De onde vem esse espírito empreendedor?
Puxa, eu até gostaria de saber! Porque eu me pergunto e não consigo achar resposta, não sei ser diferente. Se é possível, se outras pessoas têm e se esse é o cenário ideal da Implantodontia, eu encaro como “eu tenho que ter também”. Não tem limite.
Eu já estou próximo dos 60 anos e parece que nunca acaba. Quando achamos que a Odontologia estava resolvida com os escaneamentos para confecção de próteses, veio a Ortodontia e pegou a inovação digital para planejar o alinhamento dos dentes. Eu sempre quero melhorar, minha régua é muito alta. Nunca fiz isso pra ser o melhor, mas sempre fiz para oferecer o melhor.
O que você considera essencial para empreender na área da saúde?
Você tem que ter visão de como vai praticar as inovações e investimentos, o que trazem de benefício para o seu paciente. Eu tenho tudo dentro da minha clínica? Não tenho. Por exemplo, um laser cirúrgico tem um custo bastante elevado. Pensei várias vezes em adquirir, mas ainda não me traz tanto benefício, pelo investimento. É diferente de ter um tomógrafo dentro da clínica, que me facilita fazer um planejamento mais rápido e checar uma dúvida durante uma cirurgia, por exemplo. Sempre avaliamos o retorno que traz para o paciente, se outras técnicas ou investimentos menores vão dar a mesma qualidade.
Como fazer isso?
Viajamos muito para construir esse ideal baseado em clínicas de alto padrão nos Estados Unidos e Europa. Fui estudar, viajava a convite dos professores e conhecia as clínicas, e isso foi me dando informações e aumentando o desejo de fazer algo diferente.
É um desafio estudar uma clínica nos Estados Unidos e trazer isso para a nossa realidade. Porque a gente não tem incentivo nenhum do governo, para financiamentos ou investimentos que tragam benefícios para os pacientes. Para comprar um tomógrafo, pagamos os mesmos juros que qualquer pessoa paga para comprar um carro. Então, é difícil no Brasil ter esse modelo de clínica.
Qual a inovação mais importante que a Implante Vida trouxe para Santos?
A Odontologia Digital. Nós fomos os pioneiros. Quando adquirimos o primeiro scanner intraoral de captura de imagem para produção de próteses, não tinha tanta informação nem em Santos, nem tanto no Brasil, e nós ajudamos a construir esse conceito de Odontologia Digital que hoje muita gente utiliza aqui na Cidade.
Hoje já não é um privilégio nosso, mas servimos de desenvolvedores ajustando eventuais problemas, dando solução e aumentando as indicações. Acho que esse passo para o digital, aliado ao conceito de clínica all-in-one, foi uma contribuição fundamental para o cenário atual.
Como você enxerga a saúde odontológica na região?
Santos está muito bem posicionada com a Odontologia. Nós temos a UNIMES, uma universidade com mais de quatro décadas de tradição, que forma dentistas que ficam na cidade com bastante qualidade. Temos muitos profissionais que são referência como professores nacionais e internacionais. Nosso sistema de saúde é promovido pela Prefeitura e dá um suporte bastante grande, tem uma boa estrutura.
Nosso papel é tentar servir de exemplo e motivar outras pessoas a entrarem na Odontologia Digital. É uma grande responsabilidade, então temos o compromisso de fazer uma odontologia humanizada e atender todos os pacientes com carinho, independentemente da classe social que ele ocupe.
O que te faz levantar da cama todos os dias e empreender?
Tratar com gente. Adoro acordar, vir para a clínica e trocar com os nossos funcionários, colaboradores, amigos, pacientes… “brincar nesse playground”. Eu venho aqui para ser feliz.
Se surpreendeu com algo nessa jornada?
O desafio de ser grande foi uma surpresa, eu não imaginava. Hoje temos um time de 25 pessoas que trabalham diretamente conosco, entre laboratório, administrativo, clínicos e dentistas. Em nenhum momento eu fiz um planejamento, a gente simplesmente vai fazendo o melhor e vai crescendo. Mas junto também vem responsabilidade, impostos, manutenção… E isso não é só o meu sonho, é de muitas pessoas. Todo mês, independentemente de estar em uma pandemia, você tem que empinar o nariz e jamais deixar cair.Tenho que ser uma pessoa otimista e acreditar que se a gente faz o bem, vai ser recompensado.
Tem planos para o futuro da clínica que possa compartilhar com a gente?
Pagar as contas (risos). Nós temos uma clínica bem estruturada, bem localizada, com DNA digital e agora vamos aumentar a nossa participação no mercado de alinhadores, que são os aparelhos invisíveis. A Invisalign enxergou no Instituto Implante Vida uma oportunidade de aumentar a participação deles em Santos. Teremos um time de ortodontistas usando nosso DNA digital em prol da Ortodontia.
Além da clínica, você também é professor universitário. O que você a sala de aula traz de aprendizado para a clínica e vice-versa?
Nesses tempos de coronavírus, a gente não sabe. Estamos em guerra e não sabemos o dia de amanhã. Mas, espero poder ter mais um tempo de vida e um pouco de saúde para poder aproveitar a minha filha, que hoje é acadêmica de Odontologia, e tentar construir com ela alguma coisa.
Como você concilia a rotina de trabalho com a vida pessoal e familiar?
Um dia isso foi mais importante, conseguir participar das rotinas. Deus é tão perfeito que quando meus filhos eram pequenos meu trabalho me permitia estar próximo deles.
Acompanhei minha filha Maithê na patinação e o Enrico no futebol, vi os dois serem campeões. Eu que levava e pegava meus filhos na escola, tirava férias com eles em janeiro e julho.
Quando eles foram fazer faculdade fora, minhas atividades começaram a aumentar, viajando para dar cursos dentro e fora do Brasil. Agora na pandemia eu não saio mais para dar aulas e meus filhos voltaram para casa, fazem aula on-line e trabalham em home office. É uma oportunidade de ficarmos mais próximos.
O que você gostaria de dizer para quem quer empreender e trazer inovação para a Região?
Não olhar para trás. O medo entristece, tira convicções, modifica verdades. Você tem que ir para frente. Para quem está começando, é importante ter coragem, não ter um plano B para desistir dos seus sonhos. Mais ou menos como os Vikings faziam quando queimavam as embarcações na guerra. Daí, olhavam para trás e não tinha plano B, não dava para fugir.