Em um dia desses, sem nada para fazer e com tudo para ser feito, gastei horas vendo televisão durante a tarde. Além dos filmes que naquele dia não me entusiasmaram, me rendi aos programas vespertinos. Já repararam que de conteúdo não têm nada, mas de fofocas é uma sucessão sem fim?
Fiquei imaginando quantas pessoas, como eu, estavam assistindo e alimentando essa indústria da fofoca. O tema não é tão irrelevante assim. Há décadas, o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa lançou o livro “Tratado Geral da Fofoca”, que se mantém atual e eu recomendo. Ele diz que apenas 20% das informações trocadas entre as pessoas são efetivamente úteis e que a fofoca está diretamente ligada às insatisfações que as pessoas têm em relação às suas vidas.
Nesse sentido, podemos entender o grande sucesso que os programas vespertinos de fofocas fazem, seja na tv, nos sites, jornais ou revistas.
Com a curiosidade aguçada, li a respeito algo interessante: a diferença entre fofoca e boato. Apesar de as duas formas de comunicação terem uma conotação desagradável, há diferenças. A fofoca se baseia em fatos, comentados com uma intenção. Já o boato é invenção pura. A fofoca de certa maneira mantém uma ordem social, pois expressa pensamentos, críticas ou julgamentos, enquanto o boato desestrutura e destrói.
Apesar de também fazerem fofocas, as pessoas felizes tendem a fofocar sobre aspectos positivos, enquanto as pessoas infelizes o fazem sobre os aspectos negativos de qualquer situação. As mais felizes comentam e dissipam notícias boas de seus amigos e as menos felizes têm um prazer maior em contar e difundir as desgraças e os erros de seus inimigos.
Para suprir uma carência, afetiva ou social, muitas vezes a fofoca é utilizada para criar laços de confiança, por meio de segredos, críticas ou comentários trocados, reforçando o grupo. Mas também pode ter um papel construtivo, quando é feita para alertar sobre um risco ou uma situação, quando a informação é passada para assegurar que o conhecimento auxilie as pessoas.
E quanto à mídia, que que deu o start para essa reflexão? Sabemos que isso é o que alimenta a indústria do entretenimento na ‘sociedade do espetáculo’ em que vivemos.
O objetivo hoje também é que ao nos deparamos com essas notícias façamos como fez o filósofo ao se deparar com uma situação de fofoca através seu discípulo. “Essa notícia vai me auxiliar em algo? Tem certeza de que é verdade? Ficarei mais feliz ao ouvi-la? Se não for assim não quero saber”.