No Brasil não é difícil encontrar casos criminais onde os ricos são tratados de forma diferente dos pobres. Essa é uma lógica de pensamento antiga e que vem se perpetuando ao longo dos anos – na verdade, desde a fundação do país.

Nos últimos meses, os noticiários tem ganhado manchetes que mostram pessoas com grande poder aquisitivo sendo tratadas com todos os cuidados necessários e até sendo liberadas da cena do crime. Enquanto isso, a cada 12 minutos um jovem negro morre de forma violenta no Brasil (dados do Atlas da Violência). A disparidade é enorme e mostra a realidade de um país que não nega a sua origem escravocrata e elitista.

Um dos casos que mais chamou atenção e que evidencia essa disparidade foi a do Fernando Saster de Andrade Filho, de 24 anos, que dirigia uma Porche e matou um motorista de aplicativo na Zona Leste de São Paulo após colidir na traseira do carro. Durante o flagrante o homem foi liberado pelos policiais para ir ao hospital e ficou desaparecido por alguns dias. A prisão dele chegou a ser recusada três vezes por juízes de primeira instância, após algum tempo o empresário foi preso.

Fazendo um exercício de reflexão, você consegue imaginar como seria essa situação se os personagens fossem outros? Imagine que o homem que causou um acidente e matou uma pessoa era negro e pobre, será que a tratativa do problema seria conduzida da forma forma? Será que os policiais teriam liberado o motorista para ir ao hospital sem o acompanhamento de um agente?

São muitas as perguntas, mas a resposta é sempre a mesma: o julgamento das aparências. Para a procuradora-geral de Santos, Renata Araes, o Judiciário precisa ter meios de evitar esse tipo de ação.

“É isso que precisa ser discutido, o Judiciário precisa ter mecanismos e objetivos claros para decidir e não pode ficar na vontade ou intuição do policial ou do juiz que juga.”

Na outra ponta desse problema está a população marginalizada, em sua maioria, pobres, negros e minorias. No dia 1º de abril um homem negro, de 21 anos, foi agredido por policiais até ter uma arritmia cardíaca e cuspir sangue. O caso aconteceu em Piracicaba, interior de São Paulo, e de acordo com a declaração da família ao portal Brasil de Fato o jovem teria se aproximado para acompanhar uma abordagem dos agentes da Rocam. De acordo com o portal, os agentes solicitaram que ele não acompanhasse a abordagem ao colega dele e pediram para que ele se retirasse, ele se negou e acabou sendo agredido.

A pergunta que fica com tudo isso é: até quando? até quando teremos jovens negros sendo agredidos e mortos sem provas ou sem motivação e jovens ricos sendo tratados com cordialidade após cometer seus crimes? Esse problema já passou do tempo de ser resolvido e o país precisa que as leis sejam cumpridas de forma igual para todos.

Assista o programa na íntegra: