Coordenadora da Coordenadoria da Diversidade de Santos, Taiane Miyaki, relata desafios da comunidade LGBTQIAP+ atualmente

Embora a comunidade LGBTQIAP+ tenha conquistado direitos nos últimos 50 anos, e as políticas públicas desenvolvidas contribuam para o enfrentamento do preconceito, os membros ainda sofrem com o medo e, por isso, passam anos escondendo quem realmente são.

A coordenadora da Coordenadoria da Diversidade de Santos, Taiane Miyaki, explica que a possibilidade de rejeição e expulsão de determinados núcleos é realidade. “Nossas histórias, num geral, são bastante parecidas. À partir do momento que você reafirma quem você é, tudo que construiu ao longo dos anos vai por água abaixo. Eu mesma fui expulsa de casa. Tinha um bom emprego, fazia faculdade… Mas eu me assumi. Fui demitida e meu pai parou de me ajudar. Busquei outras oportunidades, mas quem sempre chegou primeiro foi meu corpo, não meu currículo”, pontua.

Mesmo que muitas empresas tenham comitês de diversidade, equidade e inclusão, a falta de oportunidade no mercado formal faz com que precisem recorrer à prostituição, principalmente mulheres transsexuais e travestis.

Fazendo um retrospecto da própria história, Taiane explica que, pessoas com certo grau de escolaridade, ainda conseguem trabalhar em salões de beleza. Quem não concluiu o Ensino Médio, nem isso.

“Minha área sempre foi Direitos Humanos. Eu queria mostrar as necessidades de um grupo que faço parte. Mas durante 34 anos, precisei trabalhar informalmente, inclusive com a prostituição. Em 2012, abriu um processo seletivo na Prefeitura de Santos para trabalhar com prevenção no HIV/Aids/Hepatites Virais e participei por nove anos de projetos do tipo. Cada vez que chegava perto de concluir, me sentia em pânico. Tinha medo de “voltar para as esquinas”, relata.

O medo fez parte da vida de Taiane por muito tempo. Em 2020, quando se candidatou como vereadora em Santos, viu a real mudança acontecer na vida. Apesar da campanha eleitoral traumática, com mensagens de ódio e extermínio, além de expulsões de locais públicos, foi reconhecida pelo prefeito Rogério Santos, e integrou a Coordenadoria da Diversidade do município.

“É o que gosto de fazer. E o que prometi não só para ele, mas para a vice-prefeita, Renata Bravo. Eu vou voltar na esquina, sim. Mas para resgatar essas mulheres. Assim como minha vida mudou, quero mudar a de outras também. Basta que queiram. Vou ouvir e dar atenção para abrir caminhos”, enfatiza.

Empoderamento é fundamental na comunidade

Segundo Taiane, pouco a pouco, os membros da comunidade têm se empoderado, e antes o que era ofensa, hoje tem outro peso. “Antigamente, chamar alguém de “bicha’ era pejorativo. O gay se empoderou e não se ofende mais. Mesma coisa quando a gente se refere a mulher lésbica, que não enxerga mais o “sapatão’ como algo ruin”.

Em relação às travestis, ela explica que mesmo que há muitos anos o termo tenha sido relacionado a HIV, drogas e prostituição, a situação difere hoje em dia. “Muitas têm orgulho de dizer que são. Um exemplo recente foi uma ex-participante do BBB (Big Brother Brasil, da TV Globo), a Linn da Quebrada, que afirmou sua identidade de gênero em rede nacional quando disse: Não sou homem, não sou mulher. Sou travesti”.