Influenciadas por tiktokers e youtubers, crianças produzem vídeos em que cortam a última sílaba das palavras

Uma nova moda que corta a última sílaba das palavras é a última febre do TikTok: a trend do corte seco. Na brincadeira, crianças falam “Vou fazer li” em vez de “Vou fazer lição” e “Quero brincar de bola” vira “Quero brincar de bo”. O sucesso desses vídeos é tanto que um deles registrou mais de 3 milhões de visualizações. A trend, que atinge especialmente a faixa etária entre 5 a 12 anos, chama a atenção de educadores e especialistas. Afinal, isso pode trazer algum prejuízo para o desenvolvimento infantil?

Se, por um lado, tudo pode ser encarado somente como uma brincadeira, é importante estar atento ao que gera essa febre e as suas consequências. Uma das preocupações é que a moda seja resultado da influência de youtubers e do excesso de exposição a telas, o que pode trazer consequências negativas para o desenvolvimento das crianças, alerta a coordenadora de Ensino Fundamental Anos Iniciais do Colégio Marista Londrina, Ligia Martines Pereira. “Embora as plataformas digitais ofereçam diversas oportunidades de aprendizado e entretenimento, é fundamental que o uso seja equilibrado e acompanhado pelos adultos. A constante exposição a estímulos visuais e sonoros pode prejudicar a capacidade de concentração e a atenção das crianças, afetando o desenvolvimento, afirma. 

Trend pode gerar impactos no aprendizado

Além disso, é preciso analisar os impactos da trend no desempenho escolar e desenvolvimento da linguagem de crianças, especialmente as que estão em fase de alfabetização. “Ao cortar a última sílaba, elas podem estar comprometendo a formação de seu vocabulário e a compreensão da estrutura gramatical. Na língua portuguesa, as últimas sílabas são essenciais para indicar gênero, tempo e pessoa verbal. Portanto, ao suprimir essa parte da palavra, a criança pode ter dificuldade em entender e aplicar esses conceitos”, reforça Kátia Oliveira da Silva Xavier, professora de Língua Portuguesa do Marista Escola Social Ecológica.

É importante lembrar que a alfabetização envolve a compreensão das relações entre letras, sons e significados. A prática do corte seco pode interferir nesse processo, uma vez que a criança pode associar palavras incompletas aos seus significados, limitando o seu vocabulário e dificultando a expressão de ideias de forma completa e precisa: “A repetição do corte seco pode levar a criança a desenvolver hábitos incorretos de fala e escrita, como a omissão de sons e a formação de palavras truncadas, ou seja, a tendência pode ser divertida, mas é importante ter cautela e considerar seus possíveis impactos no desenvolvimento da linguagem”, observa Ligia.

Limitar o uso de telas é essencial

O uso de telas e a influência de influenciadores digitais podem ser positivos ou negativos, dependendo da forma como são utilizados. No caso da trend do corte seco, pais e educadores devem estar atentos a essa prática e oferecer às crianças um ambiente propício para o desenvolvimento de uma linguagem rica e completa. Para garantir o bem-estar e o desenvolvimento saudável, é fundamental adotar algumas medidas simples, mas muito eficientes sobre o uso de tablets e celulares. “O mundo digital oferece inúmeras possibilidades, mas os pais precisam estabelecer limites e orientar seus filhos sobre o uso saudável de dispositivos eletrônicos. É importante, por exemplo, definir horários específicos para o uso de telas, como após a conclusão das tarefas escolares ou em momentos de lazer”, aconselha a coordenadora. 

Algumas atitudes podem ajudar a reduzir os efeitos do “corte seco” e a influência de tiktokers e youtubers no comportamento infantil. Confira:

Controle o uso de telas

Limitar o tempo de uso de tablets e celulares é essencial para o desenvolvimento saudável na infância, quando a criança precisa de estímulos variados mais enriquecedores do que conteúdos produzidos em redes sociais. Além disso, quando for assistir algum desenho animado, por exemplo, é interessante priorizar os conteúdos de baixo estímulo, que evitam a agitação e a ansiedade. 

Preste atenção ao vocabulário

A trend pode ser prejudicial especialmente para crianças, que podem ter a formação do vocabulário e interpretação textual prejudicadas. Afinal, na língua portuguesa as últimas sílabas representam o gênero, tempo e pessoa verbal e, caso seja suprimida, pode dificultar a comunicação.

Estabeleça locais específicos para o uso 

Uma das formas de limitar o uso de telas é estabelecer onde e quando podem ser utilizadas. Evite o uso antes de dormir ou durante as refeições e incentive pausas regulares durante para realizar outras atividades, como brincar ao ar livre ou ler um livro. Seja um modelo para seus filhos, limitando seu próprio tempo de tela e demonstrando interesse por outras atividades. 

Incentive atividades offline

Promova atividades longe das telas como brincadeiras ao ar livre, leitura e momentos de conversa. Além disso, é importante estabelecer um diálogo aberto e de confiança, conversar sobre o uso de redes sociais, explicando os benefícios e os riscos, e incentivando a comunicação aberta.