Se há uma ideia de que a juventude é tempo de inovar e construir, como fazer isso se mulheres jovens, muitas vezes, são rotuladas como “inexperientes” ou “imaturas”, sofrendo preconceito no mercado de trabalho? No Brasil, metade das mulheres abaixo dos 30 anos perderam oportunidades devido à idade e são duas vezes mais alvo de comentários etaristas do que homens, segundo pesquisa recente da McKinsey. A psicóloga Bia Tartuce, consultora de RH e mentora de carreira, esclarece este assunto e dá orientações sobre como agir, tanto para as profissionais quanto para as empresas.
Jovens mães e talentos precoces na mira do etarismo
Para jovens mães, o etarismo se manifesta de diversas formas. Muitas vezes, são vistas com desconfiança em ambientes educacionais ou profissionais, como se a maternidade precoce as desqualificasse. “O preconceito pode vir de instituições, de colegas e até mesmo de familiares, criando um ambiente de constante necessidade de, validação e luta por reconhecimento. Isso se traduz em questionamentos sobre sua dedicação e profissionalismo, mesmo quando elas demonstram alta performance e organização”, comenta Tartuce.
Da mesma forma, mulheres jovens que se destacam academicamente ou profissionalmente em idades consideradas “abaixo da média” enfrentam o ceticismo, sob a premissa de que lhes falta experiência de vida. “Muitas vezes, a inteligência e a proatividade de jovens talentos são vistas com desconfiança, como se a pouca idade invalidasse suas contribuições. É um desafio constante provar que competência não tem prazo de validade”, diz ela.

O etarismo gera autopreconceito: um inimigo interno
Ao viveciar o etarismo ou percebê-lo em outras mulheres, muitas vezes, a jovem profissional acaba acreditando nisso tudo e cria um preconceito consigo mesma, duvidando da própria capacidade, o que pode limitar ambições, impedir o aproveitamento de oportunidades e criar barreiras para si, estabelecendo um ciclo vicioso de autodesvalorização, de acordo com Bia Tartuce. “A constante necessidade de provar seu valor e as experiências negativas sobre a idade podem levá-las a duvidar de seu próprio potencial e a se autossabotarem em suas carreiras”, destaca a consultora de RH.
O que fazer contra o etarismo às avessas
Para as mulheres jovens que enfrentam o etarismo, Bia Tartuce aconselha uma postura proativa e estratégica. “É fundamental que elas se apropriem de suas conquistas e conhecimentos para fortalecerem a autoconfiança. Criar redes de apoio com outras mulheres, tanto jovens quanto mais experientes, para compartilhar desafios e estratégias também é uma excelente saída”, orienta.

Já no ambiente corporativo, as empresas devem revisar seus processos seletivos e de promoção para eliminar vieses inconscientes relacionados à idade, focando nas competências e no potencial delas. “É crucial investir em programas de mentoria reversa, onde profissionais jovens possam compartilhar conhecimentos com colegas mais experientes, e vice-versa. Outra proposta é criar uma cultura organizacional que valorize a colaboração intergeracional, promovendo o respeito às diferentes experiências e oferendo oportunidades de desenvolvimento e liderança para todos, independentemente da idade”, finaliza.