A forma como os pais se relacionam entre si no exercício da coparentalidade pode ter impacto na saúde mental dos filhos adolescentes. É o que mostra estudo conduzido por pesquisadoras da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul) e publicado na revista científica Paideia

Os resultados apontam que pais com uma coparentalidade mais cooperativa — ou seja, que se apoiam e respeitam mutuamente no cuidado dos filhos — tendem a criar um ambiente mais harmônico, o que se reflete em menor presença de sintomas emocionais e comportamentais nos adolescentes.

O estudo se destaca por utilizar modelagem de equações estruturais, uma técnica estatística robusta que permite verificar como diferentes variáveis se relacionam e predizem umas às outras. Essa abordagem vai além da correlação, por permitir que se visualize relações de dependência entre duas variáveis e que se transformem conceitos não medidos em fatores.

A pesquisa foi realizada com 217 responsáveis — em sua maioria mães — de adolescentes entre 12 e 16 anos, residentes principalmente no Rio Grande do Sul. Os instrumentos utilizados avaliaram cinco traços de personalidade dos pais (como extroversão, socialização e neuroticismo), as dimensões de coparentalidade (cooperação, conflito e triangulação) e sintomas psicológicos nos adolescentes, como hiperatividade, problemas de relacionamento e comportamento pró-social.

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Os resultados mostraram que traços como socialização e conscienciosidade nos pais estão associados a níveis mais altos de cooperação na coparentalidade — o que, por sua vez, correlaciona-se a menores níveis de hiperatividade e sintomas emocionais nos filhos, além de maior comportamento pró-social. A análise indicou que a coparentalidade atua como um mediador parcial  entre a personalidade dos responsáveis e os sintomas psicológicos nos filhos adolescentes.

“A pesquisa mostra que não são necessariamente as características individuais de cada um dos pais que determinam como eles vão atuar como cuidadores, mas sim a forma como essa dupla se organiza e coopera. Além disso, a relação coparental torna-se um exemplo e  influencia na criação de um determinado ambiente para o desenvolvimento do adolescente”, afirma Larissa Enriconi Benini, autora principal do estudo.

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Um dos dados que chamou a atenção das pesquisadoras foi que o estudo apresentou como desfecho a interação positiva entre as características da coparentalidade e personalidade  dos responsáveis da amostra, que reforçam os comportamentos pró-sociais dos adolescentes — algo raro na literatura existente. Essa diferença pode estar relacionada ao perfil da amostra, composta majoritariamente por participantes com alto nível de escolaridade, o que tende a favorecer práticas coparentais mais colaborativas e, consequentemente, resultados mais positivos no desenvolvimento dos filhos.

Fonte: Agência Bori