O aumento acelerado do consumo de medicamentos para emagrecer no Brasil tem preocupado autoridades de saúde e especialistas. Entre os fármacos que ganharam popularidade recentemente está o Mounjaro (tirzepatida), originalmente indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, mas que passou a ser usado de forma indiscriminada por pessoas em busca de perda rápida de peso. O fenômeno reacende debates sobre automedicação, riscos à saúde e a falta de acompanhamento profissional.

Nos últimos dois anos, endocrinologistas relatam um crescimento expressivo de pacientes interessados no medicamento apenas para fins estéticos, sem diagnóstico clínico que justifique o uso. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já alertou que o Mounjaro não foi aprovado oficialmente para emagrecimento no Brasil, embora estudos internacionais tenham demonstrado perda significativa de peso entre usuários. Ainda assim, o uso off-label — quando o medicamento é utilizado para outros fins que não os previstos na bula — se tornou comum.

Segundo especialistas, o uso descontrolado representa riscos importantes. A tirzepatida atua no organismo aumentando a sensação de saciedade e controlando a glicose, mas pode causar efeitos adversos como náuseas intensas, diarreia, vômitos, pancreatite, hipoglicemia e problemas gastrointestinais graves. Em pessoas sem acompanhamento médico, esses efeitos podem evoluir para quadros mais sérios, levando a internações.

Annushka Ahuja / pexels

Além dos riscos à saúde, outro problema tem se agravado: a falta do medicamento para quem realmente precisa dele. Assim como ocorreu com outros análogos de GLP-1, o uso estético tem causado desabastecimento em algumas regiões, prejudicando pacientes diabéticos que dependem do fármaco para controle glicêmico.

O médico Marcellus Ribeiro, cirurgião da clínica AudiMontedonio relata que não existem milagres e sim um processo continuo de autocuidado. “No processo de emagrecimento o maior vilão é a perda da massa muscular, quando a galera emagrece eles olham somente os número da balança, mas esses números representam os líquidos, as gorduras e principalmente a nossa massa magra. Se a pessoa não faz uma prática adequada de atividade física e uma alimentação adequada os resultados não são os mesmos.

O Ministério da Saúde reforça que hábitos saudáveis continuam sendo a base para qualquer tratamento de perda de peso sustentada. Alimentação equilibrada, atividade física e acompanhamento com profissionais qualificados — como endocrinologistas e nutricionistas — são essenciais para evitar complicações.

Para reduzir o risco de uso inadequado, especialistas recomendam que a população não compre medicamentos pela internet, evite indicações de conhecidos e desconfie de perdas de peso “milagrosas”. Profissionais também orientam que qualquer tratamento deve ser iniciado apenas após avaliação clínica completa, que envolve exames, histórico de saúde e acompanhamento contínuo.

Com a popularização acelerada desses medicamentos, o desafio agora é equilibrar inovação e segurança. O uso responsável, aliado à orientação médica, é o caminho apontado pelos especialistas para evitar que a busca por resultados rápidos acabe comprometendo a saúde.

Assista o programa na íntegra: