As buscas sobre congelamento de óvulos tiveram um aumento de 80% no Brasil nos últimos cinco anos

Se por volta dos 30 anos o plano de concretizar a maternidade não estiver em um horizonte próximo, é hora de pensar com seriedade no assunto de congelamento. “Até essa idade, as mulheres apresentam seu pico de fertilidade. A partir desse período, ela começa a declinar gradualmente e se acentua após os 35 anos – e mais ainda depois dos 40”, detalha a Dra. Cláudia Gomes Padilla, especialista em reprodução assistida da Huntington. 

As buscas sobre congelamento de óvulos tiveram um aumento de 80% no Brasil nos últimos cinco anos, segundo uma pesquisa do Google Trends. Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul foram os estados com maior interesse. A questão é cada vez mais importante de ser levada à tona, uma vez que o número de mulheres que escolheram se tornar mães com mais de 40 anos cresceu 65% em 12 anos, passando de 64 mil em 2010 para 106 mil em 2022, segundo pesquisa do IBGE. Em 2023, o número de óvulos congelados foi de 115 mil, segundo dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Anvisa.

Deixar para pensar sobre a maternidade só depois dos 40 pode fazer com que o sonho de gestar vire um caminho difícil, tortuoso e nem sempre bem-sucedido. O foco na carreira é um dos grandes motivos para postergar a decisão, mas a boa notícia é que a ciência permite minimizar a pressão do relógio biológico.

Listamos sete motivos para considerar o congelamento dos óvulos aos 30 anos de idade. Confira:

  1. Foco na carreira 

As mulheres podem postergar a maternidade, de modo que tenham mais tempo para se dedicar às carreiras. O congelamento de óvulos permite que seja possível ter filhos muitos anos depois do fim da idade fértil, por meio de técnicas de reprodução assistida como a FIV. 

  1. Mais qualidade 

Quanto mais nova for a mulher que fizer o procedimento, maior a quantidade e melhor a qualidade dos óvulos. 

  1. Preservar a fertilidade 

Várias condições médicas podem afetar a reserva ovariana, explica a Dra. Cláudia. As mais comuns são: endometriose, cistos no ovário, câncer, menopausa precoce, doenças da tireoide e doenças autoimunes.

 

  1. Sem pressão

O congelamento de óvulos ajuda a aliviar o estresse que acomete muitas mulheres quando observam que seus relógios biológicos estão correndo. “Optar pelo procedimento ‘paralisa’ esse relógio e proporciona que a mulher tenha as mesmas chances atuais de engravidar no futuro”, ressalta a Dra. Thais Domingues, também especialista em reprodução assistida da clínica Huntington.  

  1. Sem arrependimentos futuros 

É comum que as mulheres sofram com a indecisão sobre ter ou não filhos. O congelamento de óvulos dá mais tempo para fazer essa escolha com calma, sem se preocupar com a queda da fertilidade com o passar dos anos. Caso decida não seguir com os planos, pode descartar o material. O mais comum, no entanto, é se arrepender de não ter feito o congelamento antes. 

  1. Tudo planejado 

Decida o momento mais favorável de sua vida para gestar.

  1. Independência e liberdade 

Tenha controle e independência sobre sua capacidade reprodutiva, podendo escolher não somente o melhor momento para gestar, como a modalidade que mais se adequa ao seu estilo de vida. Isso significa que pode optar pela geração de um embrião com os gametas de um parceiro ou mesmo pela produção independente, com o auxílio de bancos de sêmen. Mesmo que essa possibilidade não esteja no horizonte no presente, ela pode vir a ser desejada no futuro.

“Toda mulher precisa entender sua fertilidade perto dos 30 anos para se programar. Se não tiver ideia se deseja ter filhos ou tiver a certeza de que isso não ocorrerá em curto prazo, quanto antes congelar, melhor. Assim, geralmente, usa-se menos medicação e é menor a probabilidade de precisar de mais de uma indução para obter o número desejado de óvulos. Mas, certamente, o principal a enfatizar é que a qualidade tende a ser melhor”, salienta Dra. Cláudia. 

Primeiros passos

Segundo a Dra. Thais, quanto antes congelar, melhor. “Usa-se menos medicação e é raro precisar de mais de uma indução para obter o número desejado de óvulos e a qualidade é melhor”. Para se planejar, ela recomenda seguir os seguintes passos:

Decidir 

Pense sobre seu planejamento familiar. Analise quando você considera o momento ideal, levando em conta todos os aspectos: profissionais, pessoais, financeiros e de relacionamento. 

Avaliar

Agende uma avaliação da fertilidade com um especialista – ele pedirá alguns exames. Os mais importantes são os hormonais, principalmente o antimülleriano. A dosagem dele serve para avaliação da reserva ovariana, que é a quantidade de óvulos. Também será feito o ultrassom transvaginal para contagem dos folículos. 

Sem erros 

“Um erro muito frequente é fazer a avaliação e verificar que há uma fertilidade normal – ou até acima da média – em termos de quantidade de óvulos, e ficar tranquila a respeito do congelamento. Mas é uma questão que confunde, porque reserva ovariana normal não quer dizer fertilidade normal”, alerta a Dra. Cláudia . É bom lembrar que a fertilidade engloba outros fatores, como presença de endometriose, a fertilidade do parceiro, cistos, doenças ou questões uterinas. Ou seja, mesmo que a reserva ovariana esteja normal, é indicado o congelamento se a ideia for postergar a maternidade para além dos 35 anos. 

Multifatores 

A avaliação do congelamento não depende só dos exames de reserva ovariana, mas também das perspectivas sobre a idade que pretende engravidar e de fatores de risco, como infecções, endometriose, doenças sexualmente transmissíveis, problemas de saúde, síndrome do ovário policístico e miomas. “No check-up ginecológico avaliamos todos os fatores importantes para compor a decisão”, conclui a Dra. Thais Domingues, especialista em reprodução assistida da Huntington.

“Aos 30 anos, se a mulher apresentar uma boa reserva de óvulos e quiser postergar a maternidade para além dos 35 anos, é recomendado que faça o congelamento assim que possível, a depender de sua reserva ovariana”, completa a médica. Para a Dra. Thais, o que mais atrasa há alguns anos a decisão sobre o congelamento de óvulos, era o menor conhecimento acerca do procedimento. 

“E também o medo de efeitos colaterais e até de câncer. Com os conhecimentos atuais, essas dúvidas deram lugar à preocupação em relação ao custo. Mas esse é um tabu que precisa ser desmistificado também. Além de a clínica proporcionar diferentes possibilidades de tornar o plano real, algumas empresas têm oferecido o procedimento como parte da assistência à mulher”, completa.

“Há também a questão social, porque antes dos 30 anos, geralmente, as mulheres não pensam muito na questão da maternidade, ter filhos acaba ficando um pouco mais longe dos pensamentos. Por volta dos 30 anos, é possível ponderar se a maternidade é uma questão que será concretizada naquele momento ou se será postergada. É, então, uma boa oportunidade também do lado psicológico e social”, conclui a Dra. Cláudia . 

Ela lembra também que o congelamento de óvulos não é garantia de gravidez no futuro. “Proporciona melhores chances, porém podem ser necessárias várias tentativas e os óvulos congelados acabarem antes de que se tenha sucesso”, pondera. Assim, a recomendação é que mesmo quem opta pelo congelamento mantenha o check-up da fertilidade em dia e até avalie fazer mais de uma vez o procedimento para aumentar a quantidade de óvulos congelados.